Era uma vez um pastor.... que vivia longe... muito longe... numa terra distante, talvez para os lados do Alentejo ou do Sul de Espanha... Não se sabe muito bem, porque esta estória, já vem dos tempos muito antigos, em que o Alentejo não se chamava assim.

Correu montes e vales... viajou... perdeu terras e países por onde passou e conheceu muita gente e ia ganhando o seu sustento e... chegou finalmente a uma terra de encantamento... Ali estava, mesmo diante da sua vista, uma montanha vestida de branco, como a estrela brilhante que lhe aparecia por vezes em figura de mulher! Foi o deslumbramento! - Vou conquistar o cimo daqueles montes brancos, que desde há tanto tempo, tanto me fascinam! Avançou. As gentes das terras que bordejavam a serra bem o avisaram e tentaram dissuadir... - Aquilo são os Montes Ermos, os Hermínios, a Terra dos Segredos e Mistérios... Todos os que a tentaram conquistar, partiram e nunca mais voltaram!!!...
Ele ouviu e partiu...
Ao entrar nos ermos onde só havia lendas e fantasmas... descobre... é atacado por um corpulento animal que o desafia, mas logo se reconhecem e passa, afinal, a ser o cão seu companheiro e guia, que assim substituiu o seu cão de pastor que perdera durante a longa viagem que durara tantos anos de procura... Já com o seu Cão da Serra descobre os imensos rebanhos de cabras e ovelhas que povoavam a serra e o aceitam como seu pastor e guarda, para os defender dos lobos da serra e das feras que os dizimavam... Senhor de tanta riqueza, vai caminhando sempre para o alto e e à medida que subia ia dando nomes às coisas e lugares, que encontrava e o iam encantando... - Além, aquelas pedras que se erguem como sentinelas e marcam o lugar da fronteira, onde deixei de ver gente, casa e aldeias, ficam a chamar-se as Portas dos Hermínios... as portas para os que quiserem ir em busca dos mistérios e segredos... Este rio será chamado Zêzere por causa dos azereiros, aquela espécie de salgueiros, que lhe bordam as margens... Esta é a pedra do Urso, que o cão foi atacar e confundiu com a fera... Aqui são as Penhas da Saúde, onde tive de acampar durante os tempos bebendo do leite e comendo dos rebanhos até descobrir o pão de centeio que ali engradece mais, no alto... e foi ali que recobrei as forças e fabriquei os agasalhos que me levariam ao cimo... Mais além ficaram as Arcas do Pão... Além a Argenteira... os Cântaros majestosos donde corre a água pura das montanhas... e a Rua dos Mercadores, a fenda na Montanha por onde hão-de vir os que me procuram, para mercar o leite e os queijos e as manteigas saborosas... Lá mais ao longe a Candeeira de mil luzes e desfiladeiros... e mais ao longe as Penhas Douradas, que brilham como o oiro ao Pôr do Sol ... e o Vale dos Cavalos Rocim... E o Vale das Éguas... e já a caminho do alto aparece o Terroeiro, que se despenha pelo Covão do Ferro... O Covão do Boi e as Quiejeiras, onde os bois e vacas se juntaram aos imensos rebanhos que pascia... E, enfim, o cimo, o alto, cercada pela Penha do Gato, a Penha dos Abutres, a Pedra de Ver o Mar, as Pedras Vermelhas o Malhão da Estrela de cinco pontas, à imagem da Estrela brilhante que, desde há tanto tempo o tinha seduzido lá do alto!!! Esta é, a partir de agora, a minha Serra, a minha Terra, a Serra da Estrela que eu chamo a minha S.Terra.

Mas outros numerosos exércitos apareceram e venceram... e vencem, agora, os pastores...
Quem somos nós agora afinal? Que fazemos? ... O que é para nós a Serra da Estrela?
J. P. da Serra 1988
"Quim"
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